É preciso ter a coragem de dizer

Rondó da Liberdade

É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.

Há os que têm vocação para escravo,
mas há os escravos que se revoltam contra a escravidão.

Não ficar de joelhos,
que não é racional renunciar a ser livre.
Mesmo os escravos por vocação
devem ser obrigados a ser livres,
quando as algemas forem quebradas.

É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.

O homem deve ser livre…
O amor é que não se detém ante nenhum obstáculo,
e pode mesmo existir quando não se é livre.
E no entanto ele é em si mesmo
a expressão mais elevada do que houver de mais livre
em todas as gamas do humano sentimento.

É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.

Carlos Marighella

Hoje, 4 de novembro de 2012, completam 43 anos da morte de Marighella, que é o tipo de pessoa que eu sempre vou ter como exemplo de vida. Gente que colocou o bem coletivo muito acima de seu próprio bem-estar pessoal, e que aplicava em seus atos tudo aquilo que pregava em discurso. Por conta dessa admiração profunda, em 2004, quando completava-se 35 anos de sua morte, eu sugeri seu nome como tema para uma rádio-revista ao meu grupo da faculdade. Todo mundo abraçou a ideia, o nosso professor amou, tanto que acabou veiculando o nosso trabalho na Rádio ABC e na CBN. Por conta disso, no ano seguinte, resolvemos manter Marighella como nosso tema de TCC, só que agora seria um vídeo documentário – que é esse do flyer.

Além de guerrilheiro, de teórico da guerrilha urbana, Marighella tinha um lado muito lírico, era apaixonado por música e poesia, e tinha alguns escritos que ficaram como herança dessa sua alma profundamente iluminada, que se empenhou sempre em trazer liberdade e uma vida mais digna e justa pra as pessoas. Aí em cima está um de seus poemas mais famosos, Rondó da Liberdade, que pra mim sintetiza muito bem tudo o que ele acreditava e pelo que lutava, e foi do seu primeiro verso que tiramos o título do nosso documentário.

Esse TCC foi muito marcante, porque a gente entrou de cabeça nele, foi um ano todinho dedicado a esse universo: estivémos em Salvador, Rio e Sousas para gravar as entrevistas todas. Estivemos no túmulo dele, na casa onde ele nasceu, conversamos com sua mulher, filhos e netos. Falamos com um dos freis dominicanos que estava presente na hora em que ele foi assassinado. Estivemos também na casa pra onde foi levado o embaixador dos Estados Unidos, sequestrado pela ALN e MR-8, e também conversamos com gente que participou dessa ação. Sem falar em vários outros membros da ALN, que participavam do grupo tático armado. Foi um trabalho intenso, desgastante, mas também muitíssimo gratificante. Concluímos a faculdade com uma nota dez e ainda fomos indicado ao Prêmio Foca de Jornalismo por ele.

E desde 2004, Marighella deixou de ser apenas um ídolo que eu conhecia dos livros e das histórias contadas pelo meu pai e tio, ele passou a fazer parte da minha vida, e uma parte da qual eu tenho muito orgulho e carinho. O nosso intuito com o TCC era tornar essa figura mais conhecida do grande público. Claro que o nosso trabalho não teve um suuuuper alcance, mas ao menos na Metodista, naquele ano, a turma de jornalismo passou a saber quem era essa figura, que faz parte da história do Brasil e que muita gente nem sabe que existiu. Hoje fico feliz por ver que ele virou música dos Racionais (apesar de eu ter detestado a letra e achar que ela não faz jus algum à figura que ele foi) e que isso fez com que muitos jovens fossem atrás de saber quem era essa pessoa que virou tema de música. No Festival do Rio fui assistir ao filme produzido pela sobrinha dele, e fiquei feliz ao rever vários dos meus entrevistados nesse novo projeto.

Eu e algumas das pessoas do meu grupo estamos querendo retomar o nosso documentário, as mais de 40 horas de entrevistas, e reedita-lo num formato maior e tentar fazer com que ele se torne uma coisa de maior alcance, mas a gente se reúne e a falta de tempo faz com que a gente só consiga sentar pra pensar nisso de novo meses depois. Mas a chama desse projeto ainda está bem acesa no meu coração e eu acho que o Marighella merece esse esforço de nós, por tudo que ele foi e que ele representa.

Marighella vive!!! o/

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Sobre Tayra

"Eu não aceito o que se faz Negar a luz, fingindo que é paz A vida é hoje, o sol é sempre Se já conheço eu quero é mais"
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3 respostas a É preciso ter a coragem de dizer

  1. Pingback: Que a luz trêmula e triste como um ai, a luz de um morto não se apaga nunca! | Teia de Renda

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  3. Nossa Playlist em homenagem o grande Guerrilheiro da Liberdade – MARIGHELLA.

    Abraços, Prof. Vini da @InfoDigit-PC Canal #YouTube (também site e loja virtual).

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